Espiritualidade: o poder de acolher nossa própria fé
Casas de culto pelo mundo que mudaram a maneira como me relaciono com religião
Apesar de estar longe de ser uma pessoa religiosa, sou muito apaixonada por lugares sagrados. De qualquer gênero. No entanto, demorei a aceitar este fato, porque durante algum tempo não conseguia entender de onde vinha aquele magnetismo. Afinal, nunca acreditei firmemente em religião alguma. Portanto, por um bom tempo, de certa forma era como se eu estivesse sendo hipócrita, como se não pudesse valorizar a energia sagrada só porque não sou devota...
Tive que processar alguns bocados de auto-julgamento até perceber que posso ser uma admiradora a partir de um observador distante e desapegado. Não preciso ser seguidora de nenhuma doutrina para apreciá-las e respeitá-las. Não ser religiosa não significa não poder se relacionar de alguma forma com o conceito tão amplo da religião: posso ter fé em algo poderoso e comovente emocionalmente ao mesmo tempo em que posso me sentir grata sempre que visito catedrais, capelas, templos.
Quando estou nesses lugares e imediatamente sinto vontade de orar, o faço com humildade; se quero agradecer por todas as maravilhas que acontecem em minha vida, também o faço com graça (como todas as manhãs antes da ioga); enquanto também acendo velas quando quero irradiar e absorver amor, esperança e vibrações positivas. Tanto a veracidade quanto a intensidade desses rituais podem ser desdobrados em qualquer lugar, a qualquer hora. Eles apenas requerem um coração aberto.
Desmascarar dogmas
Mas praticar e aceitar minha própria forma de adoração não foi tão simples: fui criada em um ambiente parcialmente cristão, do qual não me sentia parte. Meu pai era protestante, enquanto minha mãe nutria uma leve simpatia pelo Espiritismo. Ela acreditava em Deus, embora nunca tenha sido uma fervorosa partidária de religião.
Uma casa com credos diferentes pode se tornar muito confusa. Ainda assim, eu nunca culparia meus pais por me ensinarem um caminho que eles achavam ser o melhor para mim. Na verdade, serei eternamente feliz e grata por tudo que eles fizeram, o que também significa que eles respeitaram e apoiaram minhas próprias opiniões e convicções. Sempre.
À medida em que amadureci, o fortalecimento e a liberdade de escolha me fizeram perceber que precisava encontrar meu verdadeiro caminho para me conectar com o desconhecido. Sem regras nem julgamentos. Às vezes, é preciso uma boa dose de coragem para não ter medo de viver a vida sob nossos próprios termos.
Belezas estonteantes
Foi só quando entendi como desmistificar a minha equivocada e pré-concebida relação com as filosofias da religião que me entreguei a algo que já parecia natural: cultivar essa enorme atração que sinto por locais de fé e adoração. Afinal, se entusiastas de arquitetura podem admirar a arquitetura de lugares sagrados, eu também posso fazer o mesmo expressando minha própria estima por simbologias, coros e rituais.
Cada casa de culto em que estive estabeleceu um diálogo com o meu testemunho. Acredito que ao entrar nesses lugares com a mente aberta, milagres podem acontecer diante dos olhos. Com isso, também quero dizer independentemente de quaisquer crenças: simplesmente preste atenção na beleza única dos altares, santuários, estátuas, vitrais, estupas, colunas, mosaicos e todos os outros componentes decorativos. É inegável o poder irradiado por todas essas imagens.
À medida em que nutro, cada dia mais, o desejo de desvendar segredos de lugares sagrados, não seria surpresa que todos os meus roteiros de viagem incluam uma visita a pelo menos um lugar desse tipo. Seria pretensão demais afirmar que os exemplos a seguir são os mais lindos do mundo. Mas tenho certeza que eles vão tirar seu fôlego se você cruzar suas portas:
Grande Palácio em Bangkok, Tailândia
É impossível não absorver a forte energia espiritual que nos acompanha dentro e fora dos mais de 40 mil templos deste fascinante país asiático. Eu não poderia escolher apenas um, embora não haja visita a Bangkok sem passar algumas horas neste maravilhoso complexo de edifícios, reconhecido como o maior símbolo arquitetônico da família real tailandesa. Ainda fico um pouco emocionada sempre que vejo as fotos que tirei de lá em 2019.
Igreja e Convento de São Francisco em Salvador, Brasil
Este aqui carrega um dos estilos barrocos mais opulentos que você verá na vida. A experiência torna-se ainda mais gratificante quando se visita o convento, anexo à igreja. Ambos os locais estão localizados no icônico e vibrante Pelourinho, um bairro que pode fazê-lo se sentir a pessoa mais radiante do mundo.
Para os curiosos: o catolicismo está tão profundamente enraizado nas veias do Brasil, que o torna o país mais católico do mundo!
De Krijtberg em Amsterdã, Holanda
Até este país se tornar uma nação tolerante, os devotos católicos adoravam neste lugar que costumava ser uma igreja clandestina (o protestantismo sempre foi predominante na Holanda). Vale a pena visitar para admirar o magnífico estilo neo-gótico do século XIX e, se desejar, participar dos serviços religiosos. Os cantos gregorianos acontecem aos domingos.
Catedral de Santo Estêvão em Viena, Áustria
Talvez você não saiba que este costumava ser o local onde os Habsburgos enterravam os restos mortais da família imperial (seus intestinos, mais precisamente). Além deste detalhe peculiar dos governantes do antigo império, arquivado em catacumbas, a catedral representa quase 10 séculos de história arquitetônica. Não queira perder a chance de se maravilhar com um dos exemplos mais soberbos de estilo gótico do mundo.
Igreja de São Bavão em Haarlem, Holanda
Em 1766, Wolfgang Amadeus Mozart, com apenas dez anos, se apresentou nesta igreja protestante localizada na adorável e discreta cidade holandesa de Haarlem. Admirado no mundo todo, o órgão Müller impressiona tanto em tamanho (quase 30 metros de altura) quanto em beleza. Preste atenção também no chão: ele consiste em 1.500 túmulos antigos.
Dica: Haarlem é um dos passeios bate-volta que mais vale a pena fazer saindo de Amsterdã.
Catedral de Monreale, Sicília
Nem é preciso dizer que o Vaticano é o que primeiro vem à mente sempre que o catolicismo é mencionado. O que o coloca em uma categoria "superior" e difícil de comparar, assim como o Muro das Lamentações em Jerusalém é para a comunidade judaica. Portanto, reverencio esta catedral única no sul da Itália, perto de Palermo, cujas pinturas dos mosaicos são tão magníficas que nos faz sentar para apreciar e entender sua complexidade. Poucas regiões têm uma influência normanda-árabe tão forte como a Sicília; e esta catedral a representa como nenhuma outra.
Capela Sainte Chapelle em Paris, França
Custei acreditar no que os meus olhos estavam vendo quando entrei pela primeira vez nesta capela excepcional: há mais de mil vitrais e cada um carrega seu próprio significado (a maioria retratando histórias do Antigo e do Novo Testamento). É impressionante e inesquecível. Uma verdadeira pérola da arquitetura gótica francesa.
Catedral Dom de Wurzburgo, Alemanha
O que mais me impressionou nesta catedral românica foi o seu interior revestido em branco em completa harmonia com poucos símbolos dourados, como a cruz central. É tão pacífico e celestial lá dentro que você quase se sente como se estivesse a um passo do céu.
Em tempo: ainda não consegui visitar uma mesquita nem uma sinagoga, mas adoraria; espero que fazê-los em um futuro não muito distante.