Tailândia: mai pen rai

Algumas viagens nos deixam tão felizes e entusiasmados que instantaneamante nos vemos num emaranhado de ansiedade frente ao destino que espera. Foi assim com a Tailândia. Fui convidada pelo Tourism Authority of Thailand para fazer parte de um pequeno grupo que viajaria à Tailândia para conhecer e se familiarizar com o país, e especialmente para participar da importante cerimônia de coroação final do rei Rama X chamada Royal Barge - ocasião única e pouco frequente, com a apresentação de 52 belíssimas barcas e 2.200 homens remadores percorrendo o rio Chao Phraya, ao som de monges cantando ao longo de seis templos às margens do rio.

A viagem aconteceria dali a 20 dias e, convenhamos, não é toda hora que planejamos atravessar dois oceanos e virar o fuso horário de ponta cabeça em tão pouco tempo. E muito menos não é toda hora em que somos convidados a prestigiar uma cerimônia Real. Não que isso fosse um problema, de longe! Mas o sentimento de entusiasmo com ansiedade ganhou forças pois há três anos eu nutria um enorme desejo (meio obssessivo) de conhecer Bangkok. Desde então, sabia que não demoraria muito pra colocar os pés nesse que se tornou um dos locais mais emocionantes que já visitei.

Esse misto de ansiedade com entusiasmo veio a calhar com uma expressão que aprendi, antes mesmo de chegar na Tailândia: mai pen rai. Um dos termos mais intrínsecos ao comportamento e mind-set do tailandês, significa “não se preocupe”, “deixa estar”. Uma amiga americana que mora há anos em Bangkok me escreveu "mai pen rai" quando sentiu que eu precisava ouvir e relaxar um pouco mais antes de embarcar para um destino tão incerto. Digo incerto porque nenhum de nós ocidentais está preparado para o choque (no bom sentido) que é viver o Oriente.

Quando visitamos países da Ásia pela primeira vez nossa cabeça e coração entram em ebulição - seja por conta dos costumes, da comida, da educação, do estilo de vida e, principalmente, na minha opinião, da espiritualidade. Mai pen rai é uma das expressões mais sábias que já aprendi na vida - não à toa a tatuei no meu braço 01 mês depois de retornar e desde então passei a enxergar alguns aspectos da minha vida - como objetos materiais, trabalho, acontecimentos passados, relações e ciclos que terminam - com  menos desapego.

Para desbravar esse país extraordinário, acho fundamental ficar ao menos 01 semana em Bangkok, não só por ser a capital, mas porque é uma cidade enriquecedora que não merece menos. Locais maravilhosos para comer, beber e curtir a noite; passeios lindos pelo rio Chao Phraya; templos budistas de encher os olhos d'água; centros comerciais dignos de país de primeiro mundo; transporte público que funciona; massagens, paisagens e costumes inesquecíveis.

E o custo de tudo isso é baixo, principalmente se enxergarmos os valores que essas experiências emocionais nos trazem (e que ficam pra sempre). Sem contar a elegância e a cortesia dos tailandeses, sempre solícitos e gentis. Prova disso é a constante saudação com a qual o povo Thai costuma praticar em situações sociais cotidianas, geralmente para dizer "Olá", "Bom dia" ou para se despedirem - com as mãos unidas próximas ao queixo, o cumprimento sawasdee soa como uma melodia doce, ao mesmo tempo com que movem a cabeça para baixo, em delicada e elegante reverência. Sawasdee vem acompanhado de "Krab", ao final, se a pessoa é do gênero masculino, e "Ka", se é feminino. Nada mais é que o cumprimento ocidental de aperto de mãos, mas de uma forma mais cortês e com mais reverência, na minha opinião, e que inspira devolvermos um sorriso genuíno. Sem contar a gentileza quando lhe presenteiam com a coroa de arranjo de flores "Phuang Malai": símbolo de boas vindas e também usada como oferenda em templos, hotéis e outros estabelecimentos.

Além da riqueza gastronômica - da qual falo em outro artigo em detalhes -, um dos aspectos mais particulares da cultura tailandesa é a religião, 95% de crença budista. Sendo seguidor ou não, é inevitável não se contagiar com uma energia espiritual fortíssima que nos acompanha dentro e fora dos mais de 40 mil templos que existem no país. São tantos que jamais caberá conhecê-los numa única vida.

O povo tailandês também carrega enorme superstição. Até por isso constróem aquelas lindas casas - pequeninas ou bem grandes -, tão logo compram um determinado terreno para construir um estabelecimento comercial ou residencial. O tailândes acredita que os espíritos estão por toda parte e, ao chegar num novo espaço para trabalhar ou viver, ele sabe que precisa dar moradia "aos que ali ainda residem", mesmo não podendo ser vistos. É uma forma de se sentirem protegidos e enquanto respeitam o passado. Essas casas são chamadas Casa dos Espíritos e são vistas em todos os cantos, seja na frente de bancos, restaurantes e shoppings, dentro de hotéis, no quintal de residências particulares, e nelas os tailandeses depositam incenso, comida e flores.

A Tailândia é um país pequeno e de fácil locomoção, rodeada de ilhas paradisíacas, templos e ruínas também fora de Bangkok. É impensável, pra mim, não visitar a histórica Ayutthaya, uma das antigas capitais do país, a cerca de uma hora de BKK. Aliás, desvendar a beleza dos templos é completa quando se visita Ayutthaya. É de tirar o fôlego. Me arrepia toda vez que recordo as cores e desenhos deixados pelas ruínas dos templos - a cidade foi destruída pelo Império Birmanês no século 18 -, cuja arquitetura recebeu influências do Cambodja (visível nas estruturas das torres dos templos em forma de "espigas de milho", chamadas Phrang), Sri Lanka (nas estupas, que são as torres de formato semelhante a sinos) e India (com as imagens dos Buddhas). Toda essa riqueza arquitetônica se espalha por um sítio arqueológico tombado pela Unesco, que por sua vez não permite qualquer tipo de intervenção humana, como restauro, preservando sua integridade original.

E por falar em ilhas, são mais de 1.400 e tamanho é o crescimento do turismo que algumas já operam com um fluxo enorme , como as famosas Pukhet (do trágico tsunami em 2004), Phi Phi ou Samet. Sou mais da turma que prefere as menos tumultuadas, como Koh Lanta, que dizem, assíduos frequentadores que a visitam há muito tempo, se tornará uma das mais procuradas em pouquíssimos anos. O acesso é feito pela junção aéreo (Bangkok até Krabi), e depois barco e carro - num total de aproximadamente quatro horas. Tudo nessa ilha é perfeito: a cor e a temperatura do mar, o pôr do sol, a abundância da natureza, as sensações que nos carregam para um oásis fora da realidade. Vou falar um pouco mais de Koh Lanta em outra matéria.

Pra fechar, algumas dicas práticas:

Quando ir: a Tailândia pode ser visitada o ano todo, assim como faz calor o ano todo também. Mas requer atenção aos meses nos quais chove mais (monções). Por exemplo: a região do Mar de Andamão (Phuket, Krabi, Phi Phi e Koh Lanta) é mais chuvosa de Julho a Setembro, enquanto a região do Golfo da Tailândia (Samui, Koh Tao, Koh Phangan) tem mais chuva de Outubro a Novembro.

Quanto tempo ficar: para conhecer Bangkok, ilhas e cidades históricas, sugiro no mínimo 15 dias. Dá pra fazer em 10 dias, mas dependendo do seu destino de partida, pode ser que você tenha uma sensação maior de cansaço pra enfrentar longas horas de vôo somado ao fuso horário.

Custos: gasta-se muito pouco pra se divertir bastante. A moeda local Baht, quando comparada ao Real do Brasil, é mais ou menos assim:100 baht equivalem a aproximadamente 14 reais. Pra se ter uma ideia, um café custa em torno de 35 baht. Uma corrida única no transporte público mega eficiente em Bangkok sai por 59 baht. Já comer, se for ao estilo street food sem-frescura-zero-exigência, você pode pagar 30 baht. Em restaurantes mais elaborados com ar condicionado, de 200 a 500 baht.

Transporte: algumas cidades podem ser feitas de carro, partindo de Bangkok, como Ayutthaya e Kanchanaburi. Mas para se deslocar às ilhas, pega-se avião no aerorporto de Bangkok até Krabi ou Phuket, se a idéia é visitar algum ilha do lado Oeste, e também para os aeroportos de Surat Thani e Koh Samui, para acesso às ilhas do Golfo da Tailândia.

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