Bangkok: tão intensa quanto serena

"There's very little bitterness in Thailand", ou seja, "Há pouquíssima amargura na Tailândia". Acho que poucas frases definem tão bem o clima que paira e dá o tom a esse país. Como a porta de entrada da Tailândia é Bangkok, instantaneamente foi isso o que senti quando cheguei: sorrisos gratuitos, gentileza, generosidade, leveza, tudo junto em harmonia à quase ausência de amargura, seja na fala ou nos atos dos tailandeses.

Homem tailandês navega barco sobre o rio Chao Phraya em Bangkok
Estátua do Buda reclinado no templo Wat Pho em Bangkok

Alguns podem até contrapor esse aspecto ao caos do seu trânsito, o que é verdade, tão grande é sua população com mais de oito milhões de pessoas, a maioria motorisados, que por sua vez contribui à intensidade das ruas. Se pensarmos, também, no bairro de Chinatown, realmente encontramos tumulto. Mas todos os tailandeses de Bangkok parecem viver um ritmo mais pacífico, que não se assemelha - tal qual minha impressão pessoal -, àquela sensação frenética presente em grandes capitais do mundo. Bangkok é um destino versátil, pra todos. A cidade não tem preconceitos e oferece tudo o que qualquer um está procurando, independente do que for: se busca comida de rua - simples em sua essência - ou restaurantes sofisticados, vai encontrar; centros comerciais de arquiteturas imponentes e muita tecnologia, também; transporte eficiente e barato, por quase toda a cidade; se o intuito é nutrir a espiritualidade, há templos budistas deslumbrantes que possivelmente não se conhece numa vida, além de lindos passeios de barco e escapes para a natureza.

Por fim, vida noturna agitada - e como!, talvez das mais livres (e insanas) que existe. É uma cidade tão versátil quanto próspera, inclusive do ponto de vista sócio-econômico que a coloca próxima ou no mesmo nível de desenvolvimento de uma grande metrópole. Seu governo vem investindo bastante em tecnologia e setores como o de telecomunicação encontram bons motivos para fazer negócios na capital, assim como as indústrias têxtil e de agricultura. Mas a base de tudo isso, que pauta comportamentos e hábitos, ainda me parece ser a cultura budista, cujos costumes e rituais prevalecem há centenas de anos e movem 95% da crença no país. Ainda não ouvi ninguém dizer que desgostou de Bangkok; a cidade é uma caixa de surpresas e nos faz sorrir gratuitamente, tanto por isso sinto que raramente ela decepciona alguém. Bangkok cativou meu espírito, meu observador, meus desejos que ainda nem sabia ter quando lá estava - difícil explicar como. Saí de Bangkok com a certeza absoluta de sempre querer retornar.

Monges tailandeses caminham em Bangkok

Para entender a cidade antes de visitar:

*Melhores bairros de Bangkok

Uma sugestão que pode fazer muita diferença é se hospedar - seja em hotel ou apartamento - margeando o rio Chao Praya, ou no conhecido Riverside. Vale muito a pena aproveitar a vista que esta localização oferece. E a vida em torno deste rio é bem interessante também. Muita gente já me perguntou sobre segurança e, particularmente, não vi perigo em Bangkok em momento algum. A cidade tem vários bairros interessantes e todos eles tem um pouco para desfrutar e oferecer. De modo geral não há um bairro específico que eu não recomende, inclusive alguns são muito parecidos em atmosfera e propósitos. Mas em termos gerais são esses os principais:

Sathorn: um dos pontos altos é a oportunidade de se hospedar em algum dos maravilhosos hotéis, como o Okura e o Banyan Tree (este que tem um dos rooftops mais procurados). É um bairro bastante movimentado de dia devido à concentração de empresas e também corta o rio Chao Praya.

Siam: não é considerado um bairro propriamente dito, mas muitos locais adoram por ser friendly para pedestres, de fácil acesso ao transporte BTS (mais infos abaixo) e onde estão os centros comerciais mais importantes e majestosos do país, como o IconSiam e o SiamParagon.

Silom: é o coração do distrito financeiro de Bangkok e também onde estão outros hotéis e restaurantes sofisticados. Também onde o BTS faz conexão, o que o torna um bairro de fácil acesso - pra chegar ou partir. Silom é muito procurado também pelas festas e bares gays.

Sukhumvit: vida noturna bem agitada - especialmente pela conhecida "red light sidestreet" chamada Soi Cowboy -, restaurantes sofisticados, clubes, hotéis de luxo e centros comerciais são o ponto forte deste bairro. Nem por isso deixamos de encontrar cafés e restaurantes charmosos durante o dia.

Chinatown: se o sentido da viagem for respirar e desfrutar da culinária asiática, principalmente a chinesa, aqui é o lugar. Eu não ficaria neste bairro, pois prefiro reservá-lo para passeios à noite (Yaowarat é sua avenida principal) e também na "upcoming" Soi Nana, área onde despontaram cafés, galerias e barzinhos descolados (atenção: não confundir com a tão popular Soi Nana, a "red light district" da Sukhumvit Road).

Old Town ou Ko Rattanakosin: onde estão os monumentos mais emblemáticos - e obrigatórios de conhecer -, como The Grand Palace, Wat Phra Kaew, Wat Pho e o Flower Market. Única desvantagem de ficar nesta região é a falta de acesso ao principal transporte público BTS (alternativa, então, seria usar bicicleta, táxi ou a pé mesmo).

Vista de cima do santuário Erawan Shrine no bairro Lumphini em Bangkok

*Como se locomover em Bangkok

Anda-se super bem na cidade por meio do sistema de transporte elevado BTS (skytrain com um ar condicionado potente e necessário), que custa cerca de 50 centavos de dólar uma corrida única - e de modo geral atende a quase todos os bairros que citei acima. Outro transporte que recomendo são os aquáticos que circulam o dia todo pelo rio Chao Phraya, como ferry (sem custo), long tail ou barcos de menor porte. É uma delícia se locomover de um pier ao outro e ainda curtir a paisagem dos belos edifícios que margeiam o rio, além das casinhas mais rústicas e populares.

*Onde dormir em Bangkok

Se o budget permitir, recomendo se hospedar em hotel - no lugar dos apartamentos - porque a cadeia da hospitalidade em Bangkok é um primor. Eu amei o Okura (diárias a partir de 200 dólares) e o Shangri-la (a partir de 112 dólares) - ambos são lindos, mas de estilos diferentes, com gastronomia e lazer espetaculares. A vista dos quartos do Shangri-la também é de tirar o fôlego. Em outro artigo eu conto um pouco mais sobre as particularidades e vantagens desses e outros hotéis.

*O que comer em Bangkok

Doce, azedo e apimentado: brilhantemente juntos numa mesma mordida. Embora, o apimentando, em quase todas as refeições será o predominante. Por mais que os ocidentais peçam pouca pimenta, o prato nunca virá sem pimenta alguma. A culinária na Tailândia é um deleite para os sentidos, principalmente para quem vai sem preconceitos para provar novos aromas e sabores - tudo é muito aromático e rico em especiarias, curry, vegetais, arrozes e que trazem uma sensação de leveza, ao experimentarmos, tal a forma com a qual os pratos são elaborados. Para uma refeição bem simples, sem luxo nem exigências - por exemplo, em Chinatown -, pagamos a partir de 30 baht (inacreditavelmente um dólar); em restaurantes mais elegantes e com ar condicionado, de 200 a 500 baht.

Prato típico tailandês Green Curry no restaurant Suan Thip em Bangkok

*Experiências: o que fazer em Bangkok

Barcos: Os variados barcos que circulam pelo rio Chao Phraya não só levam de um ponto ao outro como um transporte qualquer, como também fazem às vezes dos ônibus de turismo que vemos nas capitais, aqueles de estilo "sightseeing". Locomover-se e passear de barco - seja por meio daqueles pequeninos, dos long tails ou mesmo dos ferry (sem custo) -, são um meio de locomoção prático e barato e ótimos para ter uma boa visão da vida que acontece em torno do rio.

Templos: sem dúvida alguma pensar e falar na Tailândia - assim como Bangkok - é considerar que a experiência se torna completa ao visitar seus templos budistas. Ao menos dois dias são necessários, porque muitos deles são grandes e cheios de detalhes para observar e dificilmente ficamos menos de uma hora em cada um. Os principais que acho imperdíveis: Wat Arun - Temple of Dawn; Grand Palace; Wat Po - Temple of the Reclining Buddha; Sri Maha Mariamman - a maioria não cobra entrada ou, se cobra, é um valor simbólico. Exceto o Grand Palace, custando em torno de 16 dólares. Dica: alguns templos são restritos com relação à vestimenta, principalmente o Grand Palace. Entre no site antes pra entender as obrigatoriedades.

Bem estar: pra quem busca passeios ao ar livre, não deixe de separar umas quatro horinhas para conhecer o Green Lung: provavelmente o local com o ar mais puro de Bangkok. Afastado da cidade, cujo acesso é feito de barco (pega-se no pier Wat Klong Toey Nok). Como o próprio nome diz "pulmão verde", é uma área muito arborizada e calma. Maravilhoso para oxigenar a mente e andar de bicicleta. Nessa mesma linha pra quem busca relaxar e bem estar estão as ofertas de massagem praticamente a cada esquina de Bangkok. É realmente muito atrativo principalmente pelo preço - paga-se muito pouco seja para uma massagem express nas pernas ou a mais completa. A Thai Massage costuma ser bem vigorosa, por isso a recomendo pra quem realmente gosta de toques mais pesados. Os Spa's dos hotéis, principalmente de redes mais sofisticadas, oferecem serviços impecáveis.

O grande shopping center Iconsiam em Bangkok
Estátua de Buda no Grande Templo em Bangkok
Jovem tailandês vestido à caráter no bairro Chinatown em Bangkok

In-door: outro aspecto no comportamento de consumo e lazer é a busca cada vez maior - incentivada por investimentos e pelo governo - de se divertir em espaços fechados. Mesmo se a viagem não tiver o intuito de fazer compras, vale a pena visitar o complexo Iconsiam, inaugurado em 2018, às margens do rio Chao Phraya. Esse centro comercial me impressionou muito. São mais de 500 lojas e 100 restaurantes, além de mercado flutuante, performances e galerias de arte, e uma vista magnífica não só das margens do rio como também de sua arquitetura interior e exterior. Pode-se chegar de duas formas: por meio do sistema de transporte elevado BTS até a estação Krung Thon Buri e lá pega-se um shuttle de ônibus ou vai até a estação Saphan Taksin onde pega-se um ferry sem custo. Não menos importante que o Iconsiam estão o EmQuartier, o Siam Paragon e o Central World - outros gigantes que também se impõem com linda arquitetura e variedade de comércio. Todos tem fácil acesso pelo BTS também.

Fora da cidade: se a estada em Bangkok permitir reservar um dia para os arredores, recomendo alugar um carro e visitar uma das antigas capitais da Tailândia, chamada Ayutthaya e preservada pela Unesco, a cerca de uma hora. É um dos cenários mais emocionantes e inesquecíveis. Ah, contrate um guia local porque há muita riqueza de detalhes históricos para entender nesta visita.

*Quanto tempo

Recomendo no mínimo cinco a sete dias para visitar Bangkok, idealmente 10 dias ou até mais. Tal qual uma capital como Amsterdam, Paris e Londres, sempre há o que descobrir e reviver. Acho impossível aproveitar o que de melhor Bangkok oferece com menos de cinco dias. Se a intenção da viagem é explorar as ilhas tailandesas e não fazer da cidade o destino principal, tudobem, mas tenha em mente que a intensidade de tudo que há pra vivenciar lá não condiz com estadas curtinhas.

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