Antes de ir a Palermo, entenda a Sicilia
Conhecer a Sicilia foi um grande sonho. Não um sonho no sentido de tanto querer e ansiedade em conhecê-la. Mas um tipo de sonho que me transportava para sensações e para uma realidade mágica nos dias em que eu estava lá, e ainda me leva de volta para uma forte e feliz nostalgia quando lembro de tudo que conheci. Há lugares que visitamos que parecem captar – e agarrar – nossa alma. De todos os lugares já visitados na Italia, a Sicilia foi a que mais me fez querer voltar. Uma região pequena ao Sul do país, cheinha de estereótipos, muitos dos quais verdadeiros, e que pode ser compreendida apenas se você olhá-la com admiração, curiosidade e sem julgamentos.
Alguns amigos disseram que a Sicilia é a Bahia do Brasil! Que engraçado! Acho que tem um fundo de verdade (amo a Bahia, inclusive). O ritmo é mais lento, trabalha-se menos (caros baianos: sei que há exceções!), muitos vivem e dependem de negócios ligados ao porto, há uma certa malandragem ainda que nem se compare à napoletana (!), come-se tão bem, o centro histórico é um convite à imaginação do que foi belo no passado. Honestamente as melhores refeições que fiz na Itália – e olha que comer bem na Itália é muito fácil – foram na Sicilia (depois falo em outro artigo sobre a dieta mediterrânea do Sul da Italia). Pra quem gosta de peixes crus e frutos do mar, é o que tem de mais fresco. Os famosos cannoli – ou cannolo, no singular – aquele cilindro de massa frita recheado com mascarpone – tem uma leveza e um sabor impossíveis de reproduzir em outro lugar do mundo. Não vou nem me alongar dizendo o quão inesquecível é a cassata siciliana – uma espécie de bolo com queijo de ricotta açucarado, pão de ló, pasta reale e fruta cristalizada – além de uma das heranças árabes mais apreciadas localmente. Dica: em algumas confeitarias encontra-se a cassata em miniatura... é a minha preferida.
Por falar em raízes culturais, as dessa ilha são riquíssimas e diversas: gregos, romanos e árabes deixaram suas marcas de forma muito expressiva não apenas no DNA e costumes das gerações como, e principalmente, na arte e na arquitetura.
Palermo é o ponto de entrada para se conhecer a Sicilia. Lá se tem uma boa noção de como a mentalidade e o comportamento sicilianos se convergem. Pra quem gosta de visitar lugares com menos turismo, não vai se arrepender pois a maior parte dos visitantes estrangeiros não descem até lá… vai entender! Já caminhar pela costa oeste da Sicilia é propício para amantes do vinho. Os fortificados da região de Marsala são espetaculares e vê-se plantações diversas também à beira de algumas estradas. Mas não posso deixar de mencionar os maravilhosos vinhos de uva Grillo ou Nero d’Avola! Enfim… beber e comer nessa região do país é restaurador. Para a costa leste, há Cefalu e mais à frente Taormina e Isola Bella, onde a cor azul esmeralda do mar acalma e hipnotiza. Vale dizer que a Sicilia tem 1 mil kilometros de costa! Ou seja, o mar acompanha grande parte da extensão do país e dá tantas opções a quem gosta de tomar sol, nadar. E como o clima é predominantemente quente e ensolarado em grande parte do ano, usufruir de mar e praia é sempre bom.
É tão fácil de se conhecer toda a ilha, principalmente de carro. Tudo é próximo. O acesso é fácil também de avião – saindo do aeroporto de Roma leva em torno de 01 hora e algumas companhias low cost como a Vueling operam direto e com boas ofertas e bons vôos. Já voei algumas vezes com esta empresa e gostei. Além de Palermo, as cidades de Catania, Trapani e Comiso também tem aeroporto. Há quem prefira ir de barco (nunca fiz) – cujo trajeto pode ser bem agradável saindo de Genova ou Napoli, por exemplo – ou os que preferem ir de carro ou trem. Pra conhecer toda a Sicilia é relativo o tempo que se pode levar. Pra mim, se eu ficasse um mês inteiro lá, não seria muito. Mas, em média, dá pra explorar bastante coisa com 15 dias de viagem. Mas se você tem apenas alguns dias (menos que 5 não recomendo), decida se começa por Palermo ou não, e escolha daí umas duas cidades pra visitar. Dependendo do quanto você amar o estilo de vida siciliano, com certeza vai precisar de tantos outros retornos pra saciar a alma e matar a saudade.