A beleza de Palermo
Essa cidade é de uma beleza feia ou de uma feiura bela. Tanta gente a considera feia. Eu a considero mais bela que feia. Acho que é porque consegui enxergá-la além do abandonado e largado que tanto se vê no seu centro velho e nas construções depredadas e sofridas marcas de antepassados de conflitos: em outras palavras, a negligência de seus governantes… e novamente a semelhança com o Brasil! Ou porque vi além das ruas estreitas decoradas por roupas penduradas, um cenário tão típico siciliano quanto napoletano. Até acho que tem seu charme. Se um dia resolverem tirar todos os varais e roupas penduradas não será mais a mesma. A gritaria dos comerciantes dentro mercados de rua pode até assustar a turistas que não estejam acostumados a esse barulho frenético; mas o que seriam desses mercados de rua sem seus dialetos e disputas de quem grita e vende mais? Não dá pra visitar Palermo sem conhecer os seus mercados de rua. Um dos mais conhecidos, chamado La Vucciria, funciona com mais corpo principalmente aos sábados, mas à noite mostra seu lado mais “selvagem” e vira uma balada para jovens e locais se amontoarem pelas ruas para beber, curtir, paquerar, ouvir música. Há quem prefira os mercados de rua Ballarò ou Il Capo, que também são turísticos e podem diferir muito pouco do Vucciria. Eu, particularmente, gosto mais do Ballarò, que embora seja bem mais barulhento que os outros, acredito ter uma diversidade maior de peixes, frutos do mar e verduras: na época das alcachofras, principalmente em março, é um deleite vê-las gorduchas enfileiradas nas barracas. O Ballarò fica no bairro popular de Albergheria, onde sugiro fazer um passeio a pé pelas suas ruas decadentes de palácios e igrejas barrocas. Como eu gosto muito de construções antigas – mesmo aquelas pouco conservadas – esse foi um bairro que me chamou atenção. É onde se percebe também a instalação de imigrantes árabes e africanos. Fato que tem crescido e incomodado muito nos últimos anos.
Já a região do porto tem um outro tipo de charme. De manhã cedo, vê-se pequenos comerciantes (principalmente de peixes pequeninos) espalhados pela calçada. Por eles, passam grupos de amigos ou solitários – como eu – que adoram caminhar ou correr ao ar livre, ao mesmo tempo em que se admira a paisagem do mar e dos barcos. Numa dessas minhas corridas matinais me deparei reparando no quanto o italiano dessa parte do país é magro – saudável, aliás. Viver a base de uma dieta mediterrânea – muitos peixes e frutos do mar, azeites, massas al dente que melhor ajudam na digestão, molhos caseiros e sem conservantes, um bom cálice vinho e muita água – tem suas vantagens. E logo se percebe que essa presunção que tanto se tem, fora da Itália, de comer muito e excessivamente, não é bem assim. Come-se bem, em etapas, e as pessoas, de modo geral, dedicam mais tempo de suas vidas à mesa e às suas famílias e amigos. Com mais calma, mais tranquilidade, pois é sagrado fazer uma boa refeição com calma, na Itália. E percebi que na Sicilia isso é mais levado a sério ainda. Talvez porque seja um ritmo tão diferente, em Palermo, por exemplo, do que em outras cidades do mundo, mas a verdade é que todo o tempo que lá passei jamais vi um siciliano pular o almoço porque estava correndo com a toada frenética de trabalho. Isso, aliás, não existe em Palermo. Até porque lá se faz a conhecida “siesta”, que significa a pausa longa para as pessoas almoçarem sem pressa, estarem com a família e poderem ir às suas casas e também retomar a energia para a segunda jornada do dia. Há lugares que fecham as portas completamente, inclusive, por isso cheque os horários de alguns comércios entre 12h e 16h. Mas nada que nos impeça de resolver o que precisamos nas outras demais horas do dia. Dica: sempre bom ficar atento aos seus pertences. Palermo não é uma cidade violenta, mas existem muitos batedores de carteira de olho nos turistas despreocupados.