Cura pela ioga

2 de Junho de 2021

Sou uma mulher latina e sensível que às vezes precisa lidar com uma TPM enlouquecedora. Em outras palavras, ingredientes que levam à combinação mais genuína possível para me fazer chorar em circunstâncias aleatórias.

Eu chorei na aula de ioga. Ironicamente, parece que lá no fundo do meu coração eu já sabia que um dia isso iria acontecer. Na verdade, quase chorei uma vez enquanto ainda praticava no Brasil. Lá sim seria um bom lugar para chorar! Afinal de contas, era um ambiente onde eu me sentia segura, ao qual já estava acostumada e, se lágrimas tivessem rolado naquele contexto, eu sei que seria confortada por amigas queridas que também enfrentam certas frustrações. Mas aqui, em Amsterdã, tudo ainda é tão distante! Eis o cenário:

Depois de sete meses de prática solitária em casa, durante um lockdown frio, escuro e miserável, finalmente posso voltar à escola, embora desta vez em um país diferente. Por mais que eu já ame o novo shala e também minha nova professora (que é maravilhosa, aliás), esse era o último lugar que eu poderia imaginar para revelar um sentimento tão íntimo; menos ainda na frente de uma audiência.

Os leitores yogi que me conhecem bem já podem até adivinhar qual foi o motivo que me fez chorar. Sem mais delongas, confesso que odeio ficar de cabeça para baixo. Isso abala meu mundo de uma forma muito intensa. Perco o equilíbrio e os pensamentos tóxicos me fazem pensar que vou cair e me machucar gravemente. Para mim, essa postura é tão emocionalmente perturbadora que às vezes considero parar de fazer ioga só porque não quero passar por essa postura tão específica, embora fundamental. Quão louco é isso?!

Enquanto coloco pra fora esses sentimentos, parece ainda mais embaraçoso - e bobo - pensar no que está realmente desencadeando essas reações desagradáveis. Certas pessoas dizem que algumas posturas de ioga têm uma conexão sutil, porém profunda, com batalhas pessoais e padrões repetitivos que encontramos na vida. Se for esse o caso, minha aversão a perder o controle das situações gerais do meu dia a dia pode ressoar perfeitamente com essa afirmação. Eu sei que não é sobre a postura em si, mas sim, como eu lido com ela.

Mais frustrante ainda é perceber que há cerca de um ano, quando finalmente me permiti simplesmente desfrutar do sirsasana (cabeça para baixo), machuquei meu joelho. Desse modo, fui forçada a ficar fora do mat por alguns meses. Durante essa ausência, senti uma falta gigantesca do ashtanga yoga! Eu mal podia esperar para voltar! Então, quando voltei a praticar, minha confiança havia ido embora e me vi de novo na estaca zero.

Aqui estou eu, abrindo meu coração para quem quiser ler sobre minhas exasperações - ou mesmo rir delas - mas digo mais: não quero ser aquela pessoa que teme o desconhecido. Eu nunca fui assim! Ora, por que eu deixaria uma única postura de ioga me assustar tanto a ponto de me impedir apreciar uma das mais belas filosofias antigas que os Rishis nos ensinaram?

Liberar esse bloqueio mental, em voz alta, talvez seja outra maneira de desmistificar esse elefante branco que eu mesma criei em minha mente. Eu sei que a ioga é uma ferramenta poderosa para lidar com todos os tipos de emoções e talvez esse obstáculo esteja tentando me dizer algo. Pensando bem, o mundo já é caótico por si só; portanto, talvez não seja uma má ideia enfrentá-lo de cabeça pra baixo!

Em tempo: se você estiver procurando um lugar pra praticar ioga na Holanda - bem como meditação, Ayurveda e outras maneiras de (re) conectar-se com sua paz interior -, recomendo muito a minha escola atual chamada "Delight Yoga".

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