Estava ouvindo um dos podcasts da revista Monocle e um deles, em particular, me despertou grande interesse, já que a comida era o tema central em uma entrevista com a empresária e autora Martha Stewart. Sempre gostei dela. Mais interessante ainda é quando alguém tão apaixonado e conhecedor, como Martha, faz da cozinha e do ato de comer o momento mais irresistível e delicioso da vida.

Em algum momento o entrevistador diz: “A comida resgata lembranças”, seguida de algo sobre pratos que “trazem uma sensação de conforto”. Não pude deixar de recordar uma memória sobre a comida que me cercava quando eu era criança. Ou o prato principal que meu futuro marido e eu comemos quando saíamos em nosso primeiro encontro. Sem falar no nosso antigo apartamento no Brasil onde nossa mesa era sempre repleta de amor, sorrisos e amigos. À medida em que essas memórias despertavam em mim, meu coração, mente e paladar foram instantaneamente absorvidos por conforto, gratidão e felicidade.

Sempre dei grande importância à comida: por mais que pareça uma declaração óbvia (além de ser um privilégio), conheço muita gente no país onde moro que não nutre uma relação de grande satisfação e prazer com o alimento. Logo, a eles tanto faz o cardápio e a origem do que vai ao prato. 

Eu até poderia me chamar de epicurista, embora esteja muito longe daqueles especialistas que não podem dar uma única mordida sem descrever minuciosamente cada um dos sabores sentidos (isto não é um crítica, aliás, embora às vezes, devo confessar, soe chato alguém ao lado superlativando cada pedacinho de comida).

Porém, mais importante que tudo isso é reconhecer como sou grata por sempre ter a chance de escolher o que como. Ao mesmo tempo, é de partir o coração pensar naqueles que nunca tiveram a mesma oportunidade que eu e devem lutar todos os dias por um prato de comida para sobreviver.

A alimentação é um direito do ser humano. Como também é comer com prazer, não apenas como forma de manter-se vivo. Ninguém deveria ser privado disso.