Paraíso da cannabis
O equívoco sobre o uso de drogas leves na Holanda e tudo o que você precisa saber antes de fumar maconha em Amsterdã
É provável que Amsterdã seja uma das cidades mais autênticas do mundo, em parte por causa de sua abordagem permissiva em relação ao uso de cannabis, sem contar o infame Distrito da Luz Vermelha (Red Light District). Sejamos realistas: se não fossem essas peculiaridades, difícil imaginar em que termos esta belíssima cidade conseguiria manter o seu fluxo turístico tão massivo. No entanto, apesar de todos os esforços para divulgar inúmeras qualidades maravilhosas que esta nação tem a oferecer (particularmente me incluo como sua fiel embaixadora), a Holanda está longe de ser o país onde as pessoas mais fumam maconha.
Na verdade, o último relatório do Departamento de Drogas e Crimes das Nações Unidas (UNODC) chama a atenção da América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e África Ocidental e Central como as regiões com a maior prevalência anual no uso de cannabis. Você também pode se surpreender ao saber que Israel e Islândia - "king-size" simpatizantes da erva daninha -, pontuaram entre os cinco primeiros nos últimos anos. Ainda assim, a Holanda, especialmente Amsterdã, paga o preço decorrente de um conceito ludibriado sobre sua reputação.
Mais intrigante ainda é descobrir que produzir e fornecer cannabis em solo holandês é ilegal. Curiosamente, você pode se perguntar: mas então como os 500 coffeeshops espalhados por todo o país têm permissão para vender cânhamo pra consumo pessoal (droga recreativa)? A resposta é confusa e contraditória, embora esteja na própria essência do verdadeiro comportamento pragmático holandês.
Cannabis não é legalizada na Holanda?
Não é. A linha tênue estabelece que os coffeeshops ganham permissão para comercializar e as autoridades farão "vista grossa" para aqueles que portarem 5 gramas ou menos. A política de tolerância holandesa - que não deve ser confundida com legalização - consta no site do Governo: "Drogas leves são menos prejudiciais à saúde do que drogas pesadas. Na Holanda, os coffeeshops estão autorizados a vender cannabis em condições estritas".
Tem sido assim desde os anos 70, quando a descriminalização entrou em vigor. Em outras palavras, o pragmatismo holandês prefere manter o business da danada sob controle, regulamentando e tributando, em vez de proibir, o que poderia encorajar um mercado para criminosos.
Uma vez que as pessoas estão livres para consumir uma pequena quantidade de maconha em lojas licenciadas, as chances são menores de que elas não entrarão em contato com drogas mais pesadas, como cocaína e heroína, como explica o Governo: “Ao separar drogas leves das pesadas, cria-se uma proteção aos usuários de drogas leves contra o circuito criminoso que atua no comércio de drogas pesadas".
Maconha para estrangeiros
É inegável que este oceano de liberalismo faz brilhar os olhos do mundo: independentemente do propósito da visita, seja a negócios ou lazer, sugere-se que 25% a 30% dos viajantes passem o tempo em coffeeshops. Por outro lado, parece que apenas 8% dos holandeses fumam um baseado e muitos o fazem ocasionalmente (em termos práticos, crescer em uma sociedade onde maconha não é um tabu - muito menos proibido - faz com que se torne comum e menos desejável). O que desencadeia o fato de como a maioria dos coffeeshops são dependentes do turismo e também dos expatriados.
Depois de ter conversado com alguns gerentes de tabacarias estabelecidas há décadas em Amsterdã, minhas suspeitas foram finalmente comprovadas: somente os lugares fora do Centro da cidade não podem reclamar da ausência de turistas desde 2020. De forma deprimente, todos os localizados em bairros descolados e centrais estão literalmente lutando para sobreviver, felizmente apoiados por alguns usuários da redondeza.
Ao final da minha investigação restou uma pergunta: se a proibição do acesso turístico aos coffeeshops entrar em vigor - seguindo a meta da cidade que deseja banir os visitantes que só quererem ficar chapados ou bêbados e causar incômodo - quantas das atuais cafeterias sobreviverão? E como a popularidade de Amsterdã será percebida num futuro próximo? Espero estar por perto para testemunhar qualquer uma dessas possíveis mudanças. Enquanto isso, deixo aqui uma pequena e inofensiva dose de conhecimento:
Curiosidades sobre o mundo da cannabis
*Alguns coffeeshops em Amsterdã têm bichos de estimação considerados seus mascotes, como gatos, cachorros e papagaios;
*Cannabis também é usada para fins medicinais, como dor, espasmos, cãibras musculares, esclerose múltipla, câncer e AIDS;
*A China Antiga é provavelmente onde o consumo de cannabis fez sua primeira aparição (5 mil anos atrás);
*O coffeeshop mais antigo de Amsterdã, o Mellow Yellow, foi inaugurado em 1972, mas forçado a fechar em 2017 por causa de um novo regulamento que até hoje estabelece aos coffeeshops estarem localizados a pelo menos 250 metros das escolas;
*Instagram: a maioria dos coffeeshops tem sua própria mídia social, que é usada como meio de se tornarem populares. No entanto, os preços das ervas não podem ser publicados, pois isso seria classificado como publicidade e, de acordo com a política de tolerância holandesa ambígua, fazer propaganda não é permitido.
Antes de visitar um coffeeshop em Amsterdã
*Jargões: é possível comprar a erva pura, que eles chamam de weed (flores secas e não processadas da planta feminina da cannabis), weed misturada com tabaco, haxixe (resina da planta feminina de cannabis que foi separada da própria planta por meios mecânicos ou químicos), spacecake (forma de cannabis comestível, como brownie, biscoito, doce ou pedaço de bolo) e a CBD (abreviação de canabidiol, um composto natural que proporciona efeitos mentais/físicos sem as gargalhadas, paranóia ou aquela sedação forte que pode virar um belo de um "bode");
*Preços: variam geralmente entre 5 e 24 Euros a erva, enquanto podem ir até 50 Euros para 4,4 g de haxixe do Nepal ou do Afeganistão;
*Novatos: Não tenham medo. Eles vendem baseados já pré-enrolados, além de haver vendedores treinados que podem aconselhar sobre qual cânhamo se reflete melhor para cada estado de espírito, ocasião ou perfil;
*Regras: um adulto só pode comprar 5 gramas de maconha por dia para uso pessoal (é proibida a venda a menores de idade); bebidas alcoólicas nunca são permitidas nas dependências da cafeteria, embora os fumantes possam comprar refrigerantes, bebidas quentes e salgadinhos;
*Onde fumar: é proibido fazer uso de maconha em público; para isso, os coffeeshops são equipados com lounges (áreas de estar), onde em alguns casos o visitante pode assistir TV, ouvir música ou jogar sinuca; outra possibilidade é simplesmente consumir de buenas na privacidade de sua casa.
Coffeeshops de boa qualidade em Amsterdã
@coffeshop_hugo: recepção cortês é certamente garantida a quem entra, não só por parte dos donos, mas especialmente por seus dois bichinhos - a arara, Hugo, e o gato, Stoney. Além do mais, você nunca ficará irritado com mochileiros chapados e transitando perdidos, pois a loja fica fora do Centro da cidade, mas ainda perto de muitos dos melhores lugares para se visitar em Amsterdã.
@paradox.coffeeshop: de tempos em tempos a clientela pode admirar exposições de arte espalhadas pelas paredes; mais legal ainda é saber que as obras são de artistas menos conhecidos, que ali podem mostrar suas criações sem custo (ótima ideia!). Fora isso, mais de três décadas de muita ganja garante a este coffeeshop a reputação de ter o mais cobiçado spacecake da cidade (a propósito, feito em casa com carinho).
@coffeeshoprelax: dados os vários troféus exibidos na loja, percebe-se o quão orgulhosos e ativos eles são quando se trata de campeonatos de cannabis. Além disso, TV e música são um bom entretenimento além de estar em frente ao Small World, uma das melhores delicatessens da cidade (não perca a chance de saciar sua larica com o melhor bolo de cenoura de sua vida).
@bestfriendamsterdam: uma equipe simpática e bem treinada dentro de um ambiente aconchegante e estiloso fazem deste lugar uma excelente escolha, igualmente para os novatos, que podem se sentir confortáveis para viajar no mundo da Mary Jane pela primeira vez.