Música do coração

26 de Março de 2022

Você já ouviu uma música que te lembra algo que nunca experimentou antes? Uma música que faz seus pensamentos viajarem pelo passado de outra pessoa? Embora seja difícil explicar um sentimento tão estranho, é exatamente assim que me sinto sempre que escuto o extraordinário ex-cantor francês Charles Aznavour. É como se suas músicas me levassem direto para a vida do meu pai, ainda tão jovem, quando ele aproveitava seus melhores anos de vida em Paris.

Felicidade e tristeza embrulham no meu estômago enquanto a ausência do meu pai ainda me machuca muito; ao mesmo tempo, essas lembranças agridoces vêm à mente na tentativa de me conectar com nosso amor, cuidado, confiança e história familiar. Eu sei que ninguém me amou mais, neste mundo, do que meu pai. Ele dedicou toda a sua vida à nossa família e eu sei que sempre fui sua filhinha querida... Até o dia em que ele faleceu, ele olhava para mim com os olhos mais ternos que alguém pode olhar para seu próprio filho.

Como posso me relacionar com o passado dele sem nunca ter estado lá? Nossa conexão é tão forte a ponto de sua marca deixada em mim ainda entrelaçar no meu próprio eu e coração com as experiências que uma vez marcaram sua vida? Ou sou apenas eu tentando me agarrar algo que poderia, talvez, reunir nossos seres novamente?

Anos depois que meu pai partiu, conheci Charles Aznavour em São Paulo, durante uma bella serata no icônico Hotel Fasano. Monsieur Aznavour tinha uma certa idade e coincidentemente esse foi seu último ano entre nós. Tentei expressar admiração e também gratidão por seu trabalho tão significativo, como se suas canções fossem uma ligação ilusória entre pai e filha. Puxa, como eu gostaria de poder ter contado ao papai sobre esse encontro surpreendente e nunca imaginado! Aliás, meu pai era um dos maiores fãs de Aznavour.

No final das contas, independentemente da ligação que uma pessoa tenha com a música, ela pode ser atemporal e viajar não apenas pelo curso da vida da humanidade, mas também nos transportar poderosamente de volta no tempo: no seu, no meu, no de qualquer um de nós.

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