Pragmatismo holandês

23 de Junho de 2020

Acho que vai demorar uma eternidade até que eu me familiarize com os protocolos tão peculiares do sistema de saúde holandês. Do mesmo modo, aceitar que uma abordagem pragmática em relação aos pacientes seja, talvez, eficaz. 

Ontem me inscrevi com um Clínico Geral (General Practitioner), que é o primeiro passo necessário depois de obtermos o seguro de saúde na Holanda. O GP tem controle total sobre nossas queixas e pode decidir se precisamos ou não consultar um especialista. Isso não acontece no Brasil.

Explico: se eu quisesse ir a um dermatologista no meu país de origem, simplesmente iria. Se eu tivesse uma garganta inflamada que me incomodasse, marcava uma consulta diretamente com um otorrinolaringologista. Aqui é o oposto: os especialistas só podem ser acionados após a "bênção" do nosso Clínico Geral.

Isso ainda me soa como uma falsa liberdade. O que mais me surpreendeu, no entanto, foi fazer a primeira consulta com o GP por telefone, numa breve conversa de menos de 10 minutos com a sua secretária. É até compreensível que eles tentem evitar o contato físico devido às restrições e cuidados em tempos de Corona. Porém, sendo a primeira vez entre médico e paciente, pensei que poderia - ou deveria - haver uma dinâmica menos formal, mais humana, eu diria.

Algumas dúvidas foram suficientes, segundo a secretária, para cadastrar meu prontuário em seu sistema. Mas não posso deixar de me perguntar: a relação entre médico e paciente sempre foi distante na Holanda? Ou devo dizer prática? Aos holandeses que indaguei, todos me pareceram confortáveis com esse distanciamento, que notei ser um pouco vanguarda ao Covid-19. 

Talvez, contudo, eu é que tenha sido muito mimada pelo sistema de saúde brasileiro.

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