Doce reconciliação

1 de Julho de 2020

Tive uma surpresa extremamente afável no mercadinho de orgânicos esta semana. Em vez de morangos, outra fruta vermelha da estação apareceu em uma das barracas: cerejas. E elas tinham um gosto divino! Nunca comi uma cereja tão deliciosa em toda a minha vida.

Na verdade, nunca prestei muita atenção nelas. Sempre me pareceram um pouco dispensáveis. Além disso, bastava pensar nessas frutinhas que lembrança muito amarga instantaneamente renascia.

Durante alguns dos anos em que eu trabalhava com moda, eu tinha um chefe, digamos, um pouco psicótico que perdia a cabeça diariamente, principalmente quando estávamos prestes a dar as boas-vindas a um importante convidado estrangeiro em seu showroom.

Duas vezes por ano, deixaríamos tudo perfeitamente organizado antes da chegada desta jornalista francesa, muito exigente, diga-se de passagem. Não por coincidência, esta senhora era louca por cerejas! E adivinha quem ia ao mercado comprar as mais frescas para a madame? Oui, moi même!

Não era o fato da compra das cerejas que me incomodava. De forma alguma! Me convide para um mercado de comida que eu vou feliz da vida, sem pestanejar. Mas o contexto em que o ambiente de trabalho nos colocava. Algo como Emily em O Diabo veste Prada, sabe? Era muito trágico e pouco cômico, na verdade. 

Agora, pensando em voz alta enquanto escrevo essa memória, acredito que desde essa época fatídica (13 anos atrás!) nunca mais tive vontade de degustar a sazonalidade dessa deliciosa frutinha. Até hoje. Que feliz reencontro tivemos ontem: as cerejas e eu!

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