O Eins 44 foi um dos pontos altos de todas as descobertas gastronômicas de Berlim. Tudo nele surpreende. Fica tão escondido que, ao passar na sua rua, ninguém jamais vai imaginar que ali tem um dos melhores restaurantes da cidade. Está localizado dentro de um courtyard, no bairro de Neukölln.

Há que se fazer um parênteses importante: até 2008, o bairro de Neukölln abrigava o aeroporto de Tempelholf, construído durante o regime nazista como oficina de manutenção de aeronaves e de abrigo durante a Segunda Guerra Mundial. Quando o aeroporto foi encerrado, em outubro de 2008, esse bairro enfrentou uma queda bastante natural antes de se reerguer como uma das regiões mais valorizadas e hipsters de Berlim. Não à toa, de 10 anos pra cá, se tornou um local atraente para cafeterias e mercados de conceito orgânico, lojas vintage, mais moradores jovens, casas de kebab de influência turca e tudo o mais facilmente relacionado a um lifestyle que ainda vem ganhando influências.

Voltando ao Eins 44. Depois da entrada inusitada, seu salão poderia ser comparado a outros milhares de restaurantes de conceito industrial que literalmente ganharam o mundo. Mas nem por isso o Eins 44 parece ser datado. Um charmoso carrinho de ferro circula pelo salão principal levando destilados dos mais diversos como aperitivo para abrir o apetite dos clientes ou encerrar a sobremesa.

A vocação etílica já estava presente na história do seu prédio: contou-nos o gerente Maximilian que o proprietário da casa, um senhor de muitas posses e que se mantém anônimo, adquiriu a propriedade quando ela estava inutilizada após ter funcionado como uma importante destilaria de gin. Maximilian nos entreteu a noite toda, gentilmente explicando prato por prato, que pedimos dentro do menu degustação (pode-se variar de 5 a 7 tempos, diversificando entradas, principais, segundo prato e sobremesa, e com a opção de harmonização).

Não sou fã de menu degustação, mas esse não é, nem de longe, excessivo e pesado como os que encontramos por aí. Apresentação impecável, sabores delicados, emoção e surpresa, tudo impressiona. O chef, com 30 anos, é brasileiro. Grata surpresa!